Desenvolvimento Humano

13-03-2010 00:17

    Eu não sou como os outros. A partir de um bebé inconsciente, inacabado, fomos, pouco a pouco, fabricados por todos os contributos do mundo que nos rodeia. Lançando mão de todos os recursos, devorando tudo, desenvolvemo-nos sem preocupações, às cegas, empanturrados de papas, de conselhos, de bandas desenhadas, de afecto, de repreensões e de televisão.

    Chega então a idade em que olhamos para nós próprios: quem é este ser em que me transformei? O que é que ele vale? Examinamos o olhar dos outros que, muitas vezes, nos trespassa sem nos ver (serei tão insignificante?), ou nos chega carregado de ironias e desprezos (serei ridículo?). Vemo-nos ao espelho. Serei belo? Serei inteligente? A resposta a estas duas perguntas lancinantes à diferente dos outros

    Eu não sou como os outros. É claro, porque o meu património genético, fruto de uma dupla lotaria, é único; como única é a aventura que vivo. O que tenho em comum com todos os outros é o poder de, a partir do que recebi, participar na minha própria criação.

    Mas é preciso que mo permitam.

    E para isso contribuíram os meus pais, cujo óvulo e espermatozóide continham todas as receitas de fabricação das substâncias que me constituem.

    E a minha família, pelo alimento, pelo calor, pelo afecto, que me permitiram crescer e estruturar-me.

    E a escola, que me transmitiu conhecimentos lentamente acumulados pela Humanidade desde que esta se procura conhecer e conhecer o Universo.

    E todos os que me amam, com o seu insubstituível amor.

    Mas sou eu que tenho de concluir a obra, que tenho de colocar a trave mestra. Esqueçam o modelo que gostariam que eu fosse. Não sou obrigado a realizar o sonho que imaginaram para mim; isso seria trair a minha natureza de Homem. Para que eu seja verdadeiramente um Homem, devem oferecer-me mais uma coisa: a liberdade de vir a ser o que escolhi.

Adaptado de A. Jacquard, O Meu Primeiro Livro de Genética, 1986   

 

 

 

 

Trabalho realizado por: Juliana Vaz